sábado, 14 de março de 2009

A Era dos Extremos >>> O breve século XX.

¨A destruição do passado - ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas - é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem.¨



Talvez o maior mérito do livro A era dos extremos de Hobsbawm seja transmitir uma forte impressão do tamanho da catástrofe humana que foi o século XX. Catástrofe em relação às mortandades gigantescas, sem equiparação possível com qualquer período histórico anterior. Catástrofe em relação à desvalorização do indivíduo, ao qual, durante longos momentos do século, foram negados todos os direitos humanos e civis, que haviam sido arduamente conquistados durante o ‘longo século’ precedente: 1789-1914.

Em Era dos extremos, o renomado historiador egípcio Eric Hobsbawm explica a trajetória da sociedade no período compreendido entre os anos 1914 e 1991. O título do livro remete às experiências verdadeiramente antagônicas que coexistiram no século XX.

A primeira metade do século foi marcada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), seguida pela Revolução Russa (1917), passando pelo momento mais negro do capitalismo mundial, a quebra da bolsa de Nova Iorque (1929), culminando na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conflito que envolveu diretamente a quase totalidade dos países.

A partir do fim da Segunda G.M., conheceu-se uma nova ordem mundial, o mundo bipolarizado. As divisões das áreas geográficas de influência do bloco soviético e do bloco estadunidense foram institucionalizadas pelo tratado de Potsdam (1945), assinados por Truman, Stalin e Churchull, então chefes de estado dos EUA, União Soviética e Inglaterra, respectivamente. A esta parte de Era dos extremos faz parte também a corrida armamentista e tecnologica entre as duas potências antagônicas. A bipolaridade regeu as relações internacionais e o mundo conheceu uma verdadeira revolução científica e tecnológica, fomentada pela competição entre as economias comunista e capitalista.

A China passou por sua Revolução sob o comando de Mao Zedong, tornando-se uma nova potência comunista. Antes alinhada com o bloco soviético e, posteriormente, passando para a esfera de influência estadunidense, apos a cisão sino-soviética (1959).A ordem bipolar permaneceu até a queda do bloco soviético, incapaz de manter sua economia com os altos gastos provenientes da corrida armamentista.

Os momentos finais da ordem bipolar foram simbolizados pela queda do muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética (1991). A hegenomia capitalista passa a dominar o mundo de fins de século XX.

Em toda sua obra, Hobsbawm aborda, além dos grandes eventos históricos, a evolução dos costumes da sociedade, os movimentos culturais e também a trajetoria historica de paises chamados periféricos, na África e na América do Sul.

No final do livro, Hobsbawm descreve a crise da própria economia capitalista. Ao lado de muita informação importante, Hobsbawm tira algumas conclusões temerárias. Como, por exemplo: "O triunfalismo neoliberal não sobreviveu aos reveses do início dos anos 90". É muito otimismo de Hosbsbawm achar que o neoliberalismo se encontre abalado em virtude dos sofrimentos que esteja causando à humanidade a partir dos anos 80.

Infelizmente, a história não é um sistema de reflexos sociais perseguindo o caminho do menor sofrimento. Se fosse assim, não se teria conseguido descer aos abismos de repressão sanguinária atingidos durante o ‘breve século XX’.

Sem dúvida, é absolutamente verdadeira a exposição do que Hobsbawm considera uma depressão econômica comparável à dos anos 30, hoje se estendendo em graus diversos no mundo inteiro. Entretanto, Hobsbawm subestima a capacidade de cinismo dos economistas com acesso ao poder e à grande mídia. Para eles, o que está ocorrendo é apenas um processo "inevitável" de adaptação à "globalização econômica". O sofrimento dos seres humanos não é parâmetro de avaliação dos resultados das políticas decididas pelos clientes desses economistas. E vai continuar sendo assim, enquanto reações sociais de grande envergadura não obriguem os "formuladores de decisões" a reverem seus parâmetros.

Todas as ressalvas acima não impedem que o livro de Hobsbawm mereça ser lido com atenção. Vale um bom curso de História. Mas mesmo os melhores cursos de História têm lições que devem ser recebidas cum grano salis.

FONTE: http://www.vermelho.org.br