quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ser professor: uma escolha de poucos

Pesquisa com estudantes do Ensino Médio comprova a baixa atratividade da docência



Síntese da pesquisa sobre atratividade da carreira docente:

Nos últimos anos, tornou-se comum a noção de que cada vez menos jovens querem ser professores. Faltava dimensionar com mais clareza a extensão do problema. Um estudo encomendado pela Fundação Victor Civita (FVC) à Fundação Carlos Chagas (FCC) traz dados concretos e preocupantes: apenas 2% dos estudantes do Ensino Médio têm como primeira opção no vestibular graduações diretamente relacionadas à atuação em sala de aula - Pedagogia ou alguma licenciatura (leia o gráfico abaixo).

--------------------------------------------------------------------------------

Uma profissão desvalorizada

Só 2% dos entrevistados pretendem cursar Pedagogia ou alguma Licenciatura, carreiras pouco cobiçadas por alunos das redes pública e particular

Fonte: Pesquisa Atratividade da Carreira Docente no Brasil (FVC/FCC)

--------------------------------------------------------------------------------

A pesquisa, que ouviu 1.501 alunos de 3º ano em 18 escolas públicas e privadas de oito cidades, tem patrocínio da Abril Educação, do Instituto Unibanco e do Itaú BBA e contou ainda com grupos de discussão para entender as razões da baixa atratividade da carreira docente. Apesar de reconhecerem a importância do professor, os jovens pesquisados afirmam que a profissão é desvalorizada socialmente, mal remunerada e com rotina desgastante (leia as frases em destaque).

"Se por acaso você comenta com alguém que vai ser professor, muitas vezes a pessoa diz algo do tipo: 'Que pena, meus pêsames!'"
Thaís*, aluna de escola particular em Manaus, AM

"Se eu quisesse ser professor, minha família não ia aceitar, pois investiu em mim. É uma profissão que não dá futuro."
André*, aluno de escola particular em Campo Grande, MS

* Os nomes dos alunos entrevistados foram alterados para preservar a confidencialidade da pesquisa


O Brasil já experimenta as consequências do baixo interesse pela docência. Segundo estimativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas no Ensino Médio e nas séries finais do Ensino Fundamental o déficit de professores com formação adequada à área que lecionam chega a 710 mil (leia o gráfico ao lado). E não se trata de falta de vagas. "A queda de procura tem sido imensa. Entre 2001 e 2006, houve o crescimento de 65% no número de cursos de licenciatura. As matrículas, porém, se expandiram apenas 39%", afirma Bernardete Gatti, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e supervisora do estudo. De acordo com dados do Censo da Educação Superior de 2009, o índice de vagas ociosas chega a 55% do total oferecido em cursos de Pedagogia e de formação de professores.


--------------------------------------------------------------------------------

Faltam bons candidatos

A baixa procura contrasta com a falta de docentes com formação adequada

Fontes: Inep e Censo da Educação Superior (2004 e 2008)

--------------------------------------------------------------------------------


Um terço dos jovens pensou em ser professor, mas desistiu

O estudo indica ainda que a docência não é abandonada logo de cara no processo de escolha profissional. No total, 32% dos estudantes entrevistados cogitaram ser professores em algum momento da decisão. Mas, afastados por fatores como a baixa remuneração (citado nas respostas por 40% dos que consideraram a carreira), a desvalorização social da profissão e o desinteresse e o desrespeito dos alunos (ambos mencionados por 17%), acabaram priorizando outras graduações. O resultado é que, enquanto Medicina e Engenharia lideram as listas de cursos mais procurados, os relativos à Educação aparecem bem abaixo.


Um recorte pelo tipo de instituição dá mais nitidez a outra face da questão: o tipo de aluno atraído para a docência. Nas escolas públicas, a Pedagogia aparece no 16º lugar das preferências. Nas particulares, apenas no 36º. A diferença também é grande quando se consideram alguns cursos de disciplinas da Escola Básica. Educação Física, por exemplo, surge em 5º nas públicas e 17º nas particulares. "Essas informações evidenciam que a profissão tende a ser procurada por jovens da rede pública de ensino, que em geral pertencem a nichos sociais menos favorecidos", afirma Bernardete. De fato, entre os entrevistados que optaram pela docência, 87% são da escola pública. E a grande maioria (77%), mulheres.

O perfil é bastante semelhante ao dos atuais estudantes de Pedagogia. De acordo com o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de Pedagogia, 80% dos alunos cursaram o Ensino Médio em escola pública e 92% são mulheres. Além disso, metade vem de famílias cujos pais têm no máximo a 4ª série, 75% trabalham durante a faculdade e 45% declararam conhecimento praticamente nulo de inglês. E o mais alarmante: segundo estudo da consultora Paula Louzano, 30% dos futuros professores são recrutados entre os alunos com piores notas no Ensino Médio. O panorama desanimador é resumido por Cláudia*, aluna de escola pública em Feira de Santana, a 119 quilômetros de Salvador:
"Hoje em dia, quase ninguém sonha em ser professor. Nossos pais não querem que sejamos professores, mas querem que existam bons professores. Assim, fica difícil".

Fonte: Revista Educar

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Arte é a expressão do cotidiano

Quem tem medo da arte contemporânea? Se por um lado essa pergunta remete a algo capaz de provocar pavor, por outro retrata um sentimento comum quando o assunto é arte। Não por acaso, tal indagação dá título a um livro publicado em 2007 pela Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, com base em uma série de aulas ministradas pelo crítico de arte e curador Fernando Cocchiarale. E por que a arte contemporânea suscita temores? Porque, como descreve o autor, "habituamo-nos a pensar que a arte é uma coisa muito diferente da vida, dela separada pela moldura e pelo pedestal e, aliás, a arte foi mesmo isso durante a maior parte de sua história". Assim foi no Renascimento, no século XVIII, e também até meados do século XX, antes de o planeta assistir ao ocaso de sua própria ideia de mundo com guerras e novas tecnologias de produção e comunicação.Dessa forma, continua Cocchiarale, "a ideia de uma arte que se confunda com a vida é difícil de assimilar porque o nosso repertório ainda é informado por muitos traços conservadores". Uma primeira conclusão seria, portanto, que a arte contemporânea é a que se produz nos dias atuais, que é impossível dissociá-la das sensações e descobertas que torpedeiam o mundo ou mesmo da existência cotidiana de um cidadão. Mas é viável demarcar fronteiras cronológicas para seu surgimento. "De um ponto de vista consagrado em termos historiográficos, é a arte feita a partir do início da década de 1960, quando as certezas e utopias que definiam o projeto da arte moderna se esgotam, e outras possibilidades (arte pop, minimalismo, arte conceitual) se impõem como alternativas. É razoável, ainda, defini-la como a arte que se debruça sobre as questões de seu tempo e que problematiza o mundo em que vivemos", sustenta o pesquisador, crítico e curador Moacir dos Anjos, responsável pela curadoria do Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2007.Pioneirismo e ambivalênciaPor "problematizar", é saudável entender não uma postura de combate às instituições, mas um tipo de produção que busca na invenção formal uma maneira diferente de analisar tudo o que a cerca. A arte contemporânea mete medo porque, ao se deparar com algumas de suas obras, o público vê suas convenções embaralhadas. A fruição desses trabalhos pode ser frustrante porque o observador se põe em dúvida, ainda que em breves segundos, sobre o que está à sua frente.
Foi assim em 1917, quando Marcel Duchamp submeteu Fonte a um concurso nos Estados Unidos. A obra consistia num urinol branco, com a assinatura R. Mutt, ou seja, um objeto trazido da esfera da vida cotidiana para o circuito de museus e galerias. Nascia o readymade, e a ousadia do artista causou furor e o colocou em um patamar de destaque em relação à arte que seria concebida e concretizada em seguida. "Era um visionário que prenunciou uma época. O contemporâneo na arte não diz respeito a uma temporalidade específica, e sim a uma espécie de diálogo com o espírito de uma época. Nem tudo o que se faz hoje, por exemplo, é arte contemporânea. Trinta anos depois de Duchamp, houve a bomba em Hiroshima e o mundo perdeu a inocência. Vieram a crise dos papéis sociais, dos lugares das coisas e uma insegurança na classificação das obras de arte. Duchamp antecipa isso ao assinar o mictório, dando ao artista o poder de decidir o sistema de legitimação", observa a curadora e crítica Cristiana Tejo, ex-diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, do Recife, e coordenadora de capacitação e difusão científico-cultural da Fundação Joaquim Nabuco.Para ela, não se pode pensar em arte contemporânea sem o pioneirismo de Marcel Duchamp e a ambivalência de Andy Warhol. A pop art defendida pelo artista é essencial por transformar em matéria-prima o mundo de então. "Ele é cínico e crítico. Ao constatar que, no futuro, todos terão 15 minutos de fama, Warhol falava da vida, da velocidade com que as coisas mudam, do artista que faz do mundo seu ateliê. Na arte contemporânea, o que importa não é a linguagem, e sim a forma de operar", pontua Cristiana. As obras passam a dispor de vários suportes, ganham espaço as performances, a interação com novas mídias, as instalações - ou seja, algo que não se assemelha a ícones como os quadros de Van Gogh, ou mesmo a Mona Lisa, de Da Vinci, apenas para citar a arte ocidental.Ideias circulantes"A característica da arte contemporânea é a multiplicidade de expressões. Em uma Bienal de Veneza ou na Documenta de Kassel se encontram performances em vídeo, arte conceitual e instalações se confrontando numa sinergia. Há uma convergência. Se antes as coisas eram mais estanques, a contemporaneidade fez com que essas expressões interagissem em diálogos, interfaces, trocas. O cinema incorpora literatura, pintura, dramaturgia, e o teatro incorpora o cinema. Há uma circularidade dos formatos e das ideias estéticas", argumenta o crítico, professor e doutor em cinema pela Universidade de Sorbonne - Paris 3 Alexandre Figueirôa. Na produção cinematográfica, por exemplo, é possível distinguir os autores que romperam as estruturas tradicionais. "F. W. Murnau, Luis Buñuel, Dziga Vertov, Jean Rouch, Sergei Eisenstein quebraram paradigmas. Aos poucos o fazer artístico passou a exigir um olhar mais atento e uma abertura por parte do espectador", pontua Figueirôa.Tal abertura é essencial para a apreciação da arte em todas as suas manifestações - cinema, literatura, teatro, dança -, pois todas estão conectadas a uma noção de contemporâneo. "Desde que se entenda essa noção não como um estilo, mas como um modo de pensar, de organizar os pensamentos que ajudam a formular as proposições artísticas sobre o mundo", salienta a pesquisadora e coordenadora do programa de pós-graduação em dança da Universidade Federal da Bahia Fabiana Dultra Britto. Ela defende que "as modificações históricas nos modos de pensar e produzir arte" advêm menos de "gênios iluminados" e mais de um "processo contínuo de contaminação das ideias circulantes em cada contexto". Pode-se, contudo, rastrear os artistas que catalisaram "certo modo de pensamento artístico e procedimento compositivo fortemente identificado com princípios lógicos contemporâneos, como a não-linearidade, o acaso, a complexidade". Na dança, Fabiana cita Merce Cunningham, Trisha Brown, Lucinda Childs, Steve Paxton, Jèrôme Bel e Meg Stuart, entre outros.No cinema, o radicalismo de Jean-Luc Godard e a poética de Pier Paolo Pasolini, por exemplo, nem sempre agradam; e, no teatro, Samuel Beckett enfrentou resistência com sua visão ácida, da mesma maneira que existem detratores das encenações de Zé Celso Martinez Corrêa। "A suposta 'dificuldade' em 'entender' a arte contemporânea está em querer medi-la e julgá-la a partir de parâmetros que não reconhecem as suas especificidades। Como qualquer outro campo de expressão e de conhecimento humano, as artes visuais possuem uma história que continuamente (re)constrói convenções sobre as quais operam। É preciso pensar se faz realmente sentido a ideia de 'entender' a produção contemporânea em artes visuais, já que não cobramos um 'entendimento', por exemplo, da música que escutamos no rádio", pondera Moacir dos Anjos.A arte contemporânea, portanto, não deve ser enquadrada em conceitos anacrônicos, e sim sentida como eco de um mundo voraz, múltiplo e vasto. Esse mundo é representado não pela verossimilhança, e sim pela liberdade. A produção atual se dirige a espectadores/fruidores/consumidores que acolhem a pluralidade e exercitam a generosidade no olhar, e oferece a quem se aproxima de uma pintura, uma instalação, um filme ou uma performance um caminho no qual os significados estão abertos e ainda em construção.


Quem tem Medo da Arte Contemporânea?
Fernando Cocchiarale, crítico de arte e ex-curador do MAM-RJ realiza o workshop Quem tem Medo da Arte Contemporânea?, de 8 a 10 de maio, na Escola Guignard – Rua Ascânio Bulamarque, 540 – Mangabeiras। O valor da inscrição é R$ 300,00 e o curso acontecerá quinta e sexta, das 19h às 22h e no sábado, de 10h às 13h. Informações pelo telefone (31) 3337-7007.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

...ser ou não ser

A arte é elitista


Por muitas vezes contraditória, por tomar coca cola e amar bicho-grilismo, sempre fui contra elitismos, exclusões e coisas do gênero. Por essas e outras sempre odiei Grande sertão veredas, sempre achei ridículo sociedadezinha brasileira de letras que vê dragões e paradoxos na maldita pedra do meio do caminho ou gente que diz que Chico Buarque que é musica de verdade e o resto não presta. Todos os exemplos acima e muitos outros foram odiados por muito tempo exatamente pelo elitismo que existe dentro dos círculos sociais daqueles que gostam de tais coisas.

"Porque Guimarães Rosa é um mestre. Porque ele fez uma verdadeira obra de arte, porque o texto é lindo e bla bla bla". Os outros casos seguem a mesma linha, e o elitismo surge justamente na parte de: "Se você não vê a beleza de Guimarães quando ele coloca o sujeito na terceira pessoa do caso reto oblíquo com ângulo agudo sobre o interlocutor, então é porque você não consegue apreciar a arte". Sempre tive muita preguiça de gente que recitava de cor esses argumentos quando o assunto era artistas já aclamados, tal simplismo me irrita. Ou você esta com os críticos atuais, ou não entende nada de arte. Isso também é visto em obras de arte(e o atual cenário abstrato que esta sinceramente ridículo) ou até mesmo em áreas como jogos de video-game.
Por tanta exclusão daqueles que não conseguem entender o tipo específico de arte que sempre tive repulsa a tais coisas.Pra minha infelicidade fui obrigada a admitir o erro.

O problema de tudo isso não esta no elitismo em sí mas sim no ato de achar errado frases como: "Se você não vê beleza em o Grito é porque não entende de arte". Sim exatamente ai. Toque Vivaldi para um funkeiro carioca e ele terá asco de tal música. Mostre a Monalisa para alguém que não entenda de pintura realista, neim do contexto histórico no qual ela foi desenhada e ele somente verá uma pintura de uma jovem moça neim tão bonita assim.

O que eu quero dizer é que a arte é sim elitista, ela exclui e muito aqueles que não estão aptos a aprecia-la em toda sua grandeza. E não há nada de errado com isso.

Não se pode esperar que um total analfabeto em questões de sintaxe e gramática(eu) consiga apreciar os neologismos criados por Gaciliano ramos, do mesmo jeito que também alguém que nunca treinou seus ouvidos para música nunca conseguirá apreciar em toda sua completude uma sinfonia que envolva cerca de 50 instrumentos.

Assim temos uma arte que realmente se expressa somente em certos círculos e tende muito a formar grupos fechados. Por outro lado isso é inevitável quando se quer um especifísmo grande o bastante para criar obras imortais como a teoria da relatividade(que em vários círculos é ,muito justamente, interpretada como um obra de arte).

Já fui acusada de elitista por dizer que o artista é aquele que foge do que é comumente feito e dito, ou seja, do trivial. O que não é trivial é obviamente oposto ao que é popular. Obviamente quer dizer que o povo não é artista, pois este se elava acima daqueles.

Não é pelo baixo grau de escolaridade e pela ignorância do povo (que infelizmente é um fato) que digo isso, mas porque o artista sempre precisa estar acima dele, não importa quão instruída seja sua sociedade.

Mesmo que o mundo fosse formado de pessoas altamente instruídas e educadas (uma utopia, é lógico) o artista estaria além de todas estas coisas, assim como os cientistas e os filósofos. Mesmo que todos compreendessem o “Ser e o Tempo” ou o "Ser ou não ser", os filósofos obviamente deveriam estar além disso, pois é dele que viriam as novidades no âmbito da filosofia. Mesmo que todos compreendessem física quântica, os cientistas deveriam ter conhecimentos que o povo ainda não conhece, pois é deles que vêm as novidades. Da mesma fora são os artistas. Mesmo que toda a população fosse capaz de produzir obras maravilhosas, artistas seriam somente aqueles que fizessem obras ainda melhores, que fossem ainda mais originais, enfim que fugissem do trivial, mesmo que esse trivial fosse altamente elevado. Isso complicaria muito o trabalho de um artista, cientista ou filósofos. Mas no entanto suas produções seriam muito melhores.

O fato de a população não ter instrução não é a causa eficiente do artista, mas facilita seu trabalho. Por mais instruída que seja uma população, sempre haverá um pensamento padrão, e é disso que os artistas devem se distanciar.

Outro motivo de me acusarem de elitismo é o fato de defender que os artistas sejam pessoas altamente instruídas. Se defender isso é ser elitista, então eu o assumo. Mas se fosse assim, aqueles que me acusam também seriam elitistas, pois eles defendem que médicos e professores devem ser instruídos. Todos sabem um pouco sobre o mundo, mas isso não faz delas um professor. Todos sabem um ou dois remédios e sabem diagnosticar algumas doenças, mas isso não faz delas médicas. Da mesma forma, todos sabem escrever coisas bonitas, mas isso não faz delas poetas. É preciso uma longa educação e um treinamento para isso. A diferença é que para ser professor e/ou médico basta um diploma que é adquirido baseado nos méritos deles durante seu “treinamento”. Mas não existe diploma para certificar um poeta. Ele se faz nas suas obras. Ele precisa desta instrução para poder se elevar acima do pensamento comum, por mais alto que seja. Sem este estudo e este “treinamento” fica difícil tal feito – mas não digo impossível. Sem o conhecimento do que é trivial, ele não vai poder superar isso. Sem conhecer o que os outros artistas fizerem para fugir de tal pensamento, ele não vai encontrar o caminho certo. Por isso a instrução é importante. Nem todo mundo é médico, assim como não é todo mundo que é artista. Mas qualquer um pode ser médico se tiver a devida preparação, mas não há uma preparação específica para um artista. É elitista quem defende que médicos e professores devem ter uma preparação intelectual diferente das outras pessoas? Então por que é elitista dizer que artistas precisam de tal preparação?

Não é somente o artista quem busca fugir do trivial, buscar novos caminhos e formas de ver o mundo. Também o faz o filósofo e o cientista. Existem inúmeras diferenças entre os artistas e estes dois, mas a principal é a forma como eles expõem suas idéias. Filósofos e cientistas as expõem suas idéias com uma linguagem clara, direta e objetiva. Já os artistas o faz de modo simbólico, indireto, estético. Eles buscam uma fuga desta linguagem objetiva por ela ser trivial. O artista é quem mais se afasta desta realidade. Darwin, para falar da teoria da evolução, escreveu “A Origem das Espécies”. Os artistas escreveram romances naturalistas. Marx escreveu livros políticos/filosóficos para tratar das lutas de classes; Emile Zola escreveu “Germinal”. Schopenhauer falava de sofrimento e irracionalismo em suas obras; os expressionistas diziam o mesmo com suas cores. Os iluministas exaltavam a razão em seus livros filosóficos; Mozart celebrava o “século das luzes” com sua música. Nietzsche, em “Assim Falou Zaratustra”, utilizou narrativas e metáforas e vez da linguagem usual dos filósofos. Por conta disso, eu o considero este livro dentro do âmbito das artes e não da filosofia propriamente dita. A diferença básica é como essas idéias são tratadas. O artista as reveste com um conteúdo estético, o que muitas vezes torna difícil a apreensão destas idéias. Muitos dirão que não conseguem ver nenhuma idéia-profunda-que-se-distancia-do-trivial na música de Chopin, por exemplo. Mas ela está lá. O que acontece é que estas pessoas não estão preparadas para apreender estas idéias. É muito mais fácil captá-las dentro de um romance, pois é o que mais se aproxima da linguagem discursiva. Muitas vezes eu também não consigo apreender estas idéias dentro da música, justamente por esse distanciamento do “logos”, mas isso é decorrente de uma educação musical deficiente. A idéia profunda está lá, mas não podemos perceber por não termos conhecimento prévio para isso. Não é tão difícil notar a exaltação dos sentimentos em Beethoven e a fria precisão matemática de Mozart - pelo menos no começo da carreira. Toda obra de arte contém esta idéia profunda central. Às vezes não conseguimos apreendê-la, por isso precisamos adentrar o universo do autor e da “modalidade” artística que ele se utiliza, seja ela poesia, pintura, música, dança, etc.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nota de falecimento



É com muita tristeza que comunicamos o falecimento de nossa amiga, Valdeli Freitas, ontem a noite na sala 602 A. Durante horário de aula, no núcleo Guararapes.

Valdeli Freitas - 5º período sala 602A > Pedagogia

O sepultamento será hoje às 16h no Parque das Flores.

Lamentamos sua partida e oramos a Deus para que ampare seus entes queridos.

Tatiana Waleska