terça-feira, 16 de junho de 2009

Cildo Meireles > Arte ऐ Educação

O artista que há 30 anos incendiou galinhas, escreveu “Yankees, go home” em garrafas de Coca-Cola, carimbou notas de um cruzeiro com a frase “Quem matou Herzog?” e depois se mandou para Nova York ganha uma exposição retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Trata-se de Cildo Meireles, carioca, 52 anos, o homem que com apenas um carimbo de borracha e uma nota de dinheiro cria uma obra.

Meireles sabia que em 1975 ninguém rasgaria dinheiro para extinguir a dúvida da real causa da morte do jornalista Wladimir Herzog. Oficialmente, ele teria se suicidado na cadeia. Mas é claro que o artista e boa parte dos brasileiros não acreditaram na história. Essa verdadeira ojeriza aos meios de circulação oficial, seja de informações ou de valores, sempre moveu a obra de Meireles. E a sua trajetória também.

Quando foi incluído no Olimpo da arte brasileira, em 1969, recebendo o primeiro prêmio do Salão da Bússula, no MAM-Rio, mudou-se para Nova York com o pretexto de iniciar uma carreira internacional. Fez uma exposição, mas logo depois Meireles fez questão de sumir. “Não fiz nenhum contato de trabalho lá, estava numa fase ‘rimbaudiana’. Comecei a trabalhar com um jamaicano numa fábrica de objetos de decoração”, diz.

Seis meses depois, o artista aproveitou a bicicleta com que passeava pela cidade para mudar de emprego. Virou entregador. “Gostava do que fazia.” O tempo livre ele preenchia com visitas ao MoMA. “Tinha uma carteirinha que me permitia entrar de graça no museu e dava 50% de desconto na livraria.”

Voltando ao Rio, em 1973, quis continuar fazendo a mesma coisa. “Mas o medo de morrer atropelado falou mais alto”, diz Meireles. Voltou aos desenhos e à pesquisa, acrescentando a uma obra já contundente novas formas de questionamento político. Em Zero Cruzeiro e Zero Dollar (1977), substituiu as efígies de heróis nacionais por índios e internos de instituições psiquiátricas. Os índios foram-lhe sempre “familiares”. O pai de Meireles era indigenista, razão pela qual morou no Pará até os 10 anos, antes de se mudar para Brasília.

O que se vê no MAM é uma seleção de obras feita originalmente para o New Museum of Contemporary Art de Nova York, merecedora de resenhas para lá de elogiosas nas revistas New Yorker e Time Out no começo do ano. É a maior retrospectiva dedicada a Meireles, que continua andando de bicicleta, agora em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio.

Cildo Meireles nasceu no Rio de Janeiro, em 1948. Iniciou seu aprendizado em 1963, com o pintor peruano Félise Berranechea, em Brasília. Em 1966 efetuava a sua primeira individual de desenhos, no Museu de Arte Moderna da Bahia. Em 1969, participou (MAM/RJ) com obras experimentais e ritualísticas.

Durante a exposição do Corpo à Terra, organizada por Frederico de Morais, em Belo Horizonte, o artista efetuou uma queima de galinhas com realização estética. Viveu entre 1971 e 1973 em Nova Iorque. Expôs em 1973, em São Paulo, suas Inserções em Circuitos Ideológicos e Inserções em Circuitos Antropológicos.

Meireles sabia que em 1975 ninguém rasgaria dinheiro para extinguir a dúvida da real causa da morte do jornalista Wladimir Herzog. Oficialmente, ele teria se suicidado na cadeia. Mas é claro que o artista e boa parte dos brasileiros não acreditaram na história. Essa verdadeira ojeriza aos meios de circulação oficial, seja de informações ou de valores, sempre moveu a obra de Meireles. E a sua trajetória também.

Quando foi incluído no Olimpo da arte brasileira, em 1969, recebendo o primeiro prêmio do Salão da Bússula, no MAM-Rio, mudou-se para Nova York com o pretexto de iniciar uma carreira internacional. Fez uma exposição, mas logo depois Meireles fez questão de sumir. “Não fiz nenhum contato de trabalho lá, estava numa fase ‘rimbaudiana’. Comecei a trabalhar com um jamaicano numa fábrica de objetos de decoração”, diz.

Seis meses depois, o artista aproveitou a bicicleta com que passeava pela cidade para mudar de emprego. Virou entregador. “Gostava do que fazia.” O tempo livre ele preenchia com visitas ao MoMA. “Tinha uma carteirinha que me permitia entrar de graça no museu e dava 50% de desconto na livraria.”

Voltando ao Rio, em 1973, quis continuar fazendo a mesma coisa. “Mas o medo de morrer atropelado falou mais alto”, diz Meireles. Voltou aos desenhos e à pesquisa, acrescentando a uma obra já contundente novas formas de questionamento político. Em Zero Cruzeiro e Zero Dollar (1977), substituiu as efígies de heróis nacionais por índios e internos de instituições psiquiátricas. Os índios foram-lhe sempre “familiares”. O pai de Meireles era indigenista, razão pela qual morou no Pará até os 10 anos, antes de se mudar para Brasília.

Portanto, durante os anos 70 e 80 Cildo Meireles arquitetou uma série de trabalhos que faziam uma severa crítica à ditadura militar. Obras como Tiradentes: totem monumento ao preso político ou Introdução a uma nova crítica, que consiste em uma tenda sob a qual se encontra uma cadeira comum forrada com pontas de prego, são alguns trabalhos de cunho político do artista. Neles a questão política sempre vem acompanhada da investigação da linguagem. Inserções em circuito ideológico: Projeto Coca Cola, por exemplo, consistiu em escrever, sobre uma garrafa de Coca Cola, um dos símbolos mais eminentes do imperialismo norte-americano, a frase Yankees go home, para, posteriormente, devolvê-la à circulação. Além da questão política o projeto faz referência a toda problematização desenvolvida pelos movimentos de vanguarda e por Marcel Duchamp no início do século; uma espécie de ready made às avessas.

Cildo Meireles é um experimentalista e o seu dinamismo se passa no plano da criação verbal cotidiana.

Fonte:Revista ISTO É Gente